O que comemoramos no dia 17 de fevereiro?
Aniversário de emancipação política... Mas que emancipação é esta?
Para começar, o nome Vidal Ramos
representa a vontade de uma minoria exploradora hegemônica que determinou que
nossa cidade fosse chamada assim, pelo nome de um latifundiário, de família
dona de escravos, que governou por muitos anos nosso estado, defendendo os
interesses da burguesia. O próprio Vidal Ramos foi governador por duas vezes, e
seus filhos Nereu Ramos e Celso Ramos também governaram o estado, o primeiro
chegou a ser Presidente da República por alguns dias. No final do segundo
governo de Vidal Ramos teve início a Guerra do Contestado, na qual o governador
pediu ajuda ao exército nacional para conter os caboclos, que não aceitaram
terem suas terras entregues a uma empresa americana, a qual recebeu uma faixa
de 15Km de cada lado da estrada de ferro que se estendia do RS até SP para
explorar madeira e erva-mate. Estima-se que esta guerra que durou 4 anos levou
a derrubada de 2 milhões de pinheiros e a morte de 20 mil pessoas que lutaram
bravamente, mesmo com armas precárias.
Tudo bem, podemos não ter um nome muito
bonito, mas a história... Bem, a história pode ser ainda pior!
Até hoje chamados de heróis e
desbravadores, os brancos assassinos que aqui chegaram para expulsar e matar os índios.
Muita gente e até um livro sobre a história do município diz que os colonos foram
“obrigados” a matar muitos índios por serem violentos (quero ver quem não seria
violento ao ser expulso de uma terra da qual seu povo viveu por milênios). Mas
passado isto, algumas famílias foram se estabelecendo por esta região,
possuindo grandes quantidades de terra. Num município formado por gente cheia
de privilégios, não é à toa que se tenha um forte conservadorismo, e que as
primeiras legislaturas deste município fossem compostas quase que
exclusivamente de vereadores da ARENA, o partido criado para dar sustentação à
ditadura militar, até hoje a maior parte dos partidos que compõem a Câmara
Municipal é de dissidentes da ARENA (PSD e PP).
Fique sempre atento quando ouvir alguém falar em pioneiros e desbravadores, pois até podemos aceitar, mesmo sem concordar, que os muitos erros que cometeram deviam-se ao contexto histórico em que viviam, mas quem até hoje concorda com os atos de covardia cometidos não merece respeito dos que clamam por justiça, dos que se indignam ao ver o sofrimento injusto de outros seres.
Basta ver como são as eleições, em que a
grande parte dos eleitos recebe grandes verbas de grandes empresas, compra
muitos votos, faz a política suja. Poucos são os que conseguem eleger-se sem
compra de votos, e quando conseguem são minoria, que não pode fazer muita
coisa. Tolo aquele que acredita que será por meio das eleições que iremos mudar
o município e o Brasil.
Enquanto não fizermos política para além
das eleições pouco vai mudar. Há poucos dias pelas ruas deste município ouvi
alguém dizer: “o povo pobre oprimido é minoria, o problema é que não se
organiza pra mudar a situação.”.
Emancipar-se é tornar-se livre, autônomo,
ou seja, ser capaz de fazer escolhas próprias. Claramente não é isto que temos
em nossa cidade. Desde a definição do nome da cidade até a de quem serão os/as
representantes políticos/as deste município, tratam-se de imposições da
burguesia.
Neste dia do município prefiro chamar o
povo para tomar seu destino nas mãos e lutar por sua verdadeira emancipação do
que comemorar uma emancipação ilusória.